Ação violenta de policiais contra advogado, em Assis, vira tema de debate nas redes sociais
Ao se identificar como advogado, C.A.P.S. disse que foi desrespeitado pelos policiais.
Por Álvaro Santos, do Carta Democrática
É impossível não se indignar diante das injustiças que estão acontecendo no país. O abuso de poder, por parte de alguns policiais militares, se tornou corriqueiro e vem crescendo de forma preocupante. Na última sexta-feira (14), em Assis, durante a manifestação contra a Reforma da Previdência, tivemos mais uma triste demonstração desse tipo de abuso. O ocorrido virou tema de debate nas redes sociais.
O advogado “CAPS”, cujo nome quero preservar, no exercício de sua função, ao defender uma manifestante que estava sendo detida pela polícia militar, foi humilhado, preso e tratado como “um animal”, segundo ele.
Ao se identificar como advogado, “CAPS” disse que foi desrespeitado pelos policiais, que exteriorizaram atitudes racistas e duvidaram de sua formação profissional. Durante a discussão, três policiais o agarraram, aplicaram-lhe um “mata-leão” (golpe de estrangulamento usado em artes marciais, como o jiu-jitsu brasileiro e o judô) e o jogaram no bagageiro da viatura, conhecido como chiqueirinho.
É comum vermos reportagens que mostram presos sendo transportados em bagageiros de viatura, porém, tal prática configura violência gratuita e infração gravíssima segundo a lei. O artigo 1º da lei 8.653/93 diz o seguinte: “é proibido o transporte de presos em compartimento de proporções reduzidas, com ventilação deficiente ou ausência de luminosidade”. Somente em casos excepcionais, com permissão de autoridade competente e na forma estabelecida pelo CONTRAN.
Segundo o advogado, a violência não parou por aí. “Chegando na delegacia, sabendo que tenho claustrofobia, abriram a parte de trás e me jogaram spray de pimenta. Nesse momento me desesperei, pelo que passei com o gás, nisso saltei de cabeça do porta-malas da viatura e fiquei no chão, ocasião em que um policial veio jogar água na minha cara para potencializar o efeito do gás. Nisso eu estava no sol, enquanto eles falavam as inverdades ao delegado do meu caso”.
O Capitão PM Fernando Xavier, Comandante da 1ª Cia do 32º Batalhão da Polícia Militar de Assis, em entrevista ao Assiscity, disse que o advogado se recusou a apresentar suas credenciais e desacatou os policiais da ocorrência. Versão negada pela vítima. Digo vítima porque nada do que foi alegado pelos policiais justifica o tratamento desumano imposto a ele.
A verdade é que cenas como essa se repetem todos os dias no Brasil. Já passou a hora da sociedade refletir, debater e encontrar soluções que eliminem essas práticas de intolerância e truculência por parte de policiais despreparados e agressivos.
A Polícia precisa expurgar sua cultura repressiva, criada nos tempos da ditadura. Precisa entender que seu papel fundamental é proteger e cuidar da população e não de oprimi-la.
Muitos policiais compreendem essa necessidade e têm dado bons exemplos de cuidado e respeito humano. Compreenderam que a violência gera ainda mais violência. Um policial que trata a população com respeito, consegue resultados extraordinários em seu trabalho, enquanto outros, com comportamentos agressivos, potencializam os problemas e instigam mais atos de violência.
A truculência só serve para aumentar o repúdio da população contra a Polícia e favorecer o recrutamento de mais pessoas pelas organizações criminosas. O ódio é a motivação do crime. Hoje, nas periferias, é mais comum uma criança sonhar com o tráfico de drogas que sonhar em ser policial.
Humanizar a Polícia, fará bem para sua imagem e proporcionará maior respeito e admiração por parte da sociedade como um todo. Quando a população de baixa renda compartilhar do mesmo conceito de segurança que a população de alta renda, certamente, teremos uma sociedade mais pacífica, com menos ódio e maior obediência às leis.
Esperamos que o caso do advogado em questão, traga maior reflexão e compreensão, para a população e os órgãos de segurança pública, de que não resolveremos nossos conflitos sociais valorizando o preconceito que coloca as pessoas de pensamentos distintos, umas contra as outras, como inimigas. Nenhuma vida é mais valiosa que a outra. Somos parte de um só organismo e para que esse organismo seja saudável, é preciso que respeitemos as diferenças, a pluralidade humana e os ideais individuais.
Foto Mário Nunes
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