Milho Safrinha: Palestra traz panorama geral, cultivos alternativos e visão sistêmica de produção
O XVI Seminário Nacional de Milho Safrinha começa em 23 de novembro.
Pesquisador Dr. Claudinei Kappes
O XVI Seminário Nacional de Milho Safrinha (SNMS) trará, entre outros temas no dia 23 de novembro, primeiro dia da programação online, “A importância do Milho Safrinha e dos Cultivos Alternativos”. O palestrante convidado a discorrer sobre este tema é o engenheiro agrônomo Claudinei Kappes, pós-doutorado em Produção Vegetal pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Kappes traz neste contexto a experiência como sócio-diretor da NemaBio Laboratório e Pesquisa Agronômica, em Sinop – MT, e ampla atuação em sistemas de produção agrícolas, fertilidade e manejo do solo, adubação e nutrição de soja, algodão, milho safrinha e culturas de cobertura.
Sobre o panorama geral do Milho Safrinha no Brasil, Kappes diz que o cultivo aumentou de maneira significativa em termos de área, produção e produtividade média. O ano agrícola de 2011/2012 foi um marco histórico documentado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab): a área cultivada com milho safrinha ultrapassa o milho safra.
O pesquisador observa que, desde então, não houve reversão e, ano após ano, o milho safrinha avança ainda mais. Segundo o engenheiro, isso acontece graças a alguns fatores como investimentos em adubação, genética e manejo como um todo.
“Com esse crescimento, nosso país chegou próximo de 15 milhões de hectares de milho safrinha plantados em 2021, o que é uma área muito representativa e faz com que a produção do milho nacional seja respaldada pelo milho safrinha”, observa.
Kappes ressalta a importância do protagonismo do Estado do Mato Grosso (MT) no cenário geral do milho safrinha, uma vez que é o estado que mais cultiva milho no Brasil. Na safrinha de 2021, o MT cultivou aproximadamente 6 milhões de hectares. Uma área muito representativa a nível nacional, contribuindo com quase metade de toda a produção na safrinha.
“O que mais chama atenção nesse protagonismo é a virada de chave que aconteceu nos últimos anos, pois se antes era um desafio o consumo interno dentro do estado e grande parte da produção precisava ser enviada para longas distâncias como Santos ou Paranaguá, isso mudou com a chegada de usinas de etanol de milho na região, pois tornou o consumo estadual muito maior”, comenta Kappes lembrando que, além dos preços, a logística dentro do estado melhorou.
Ao ser questionado sobre o que leva o estado do MT ser o maior produtor de milho safrinha do país, o engenheiro explica que o clima ajuda muito, os seus solos são planos com uma fertilidade construída muito boa e os altos investimentos em capacidade operacional torna o plantio muito rápido.
Um dos seus assuntos no SNMS será sobre Culturas Alternativas para a produção. Kappes explica que é predominante o bioma cerrado na região centro oeste e que predomina o cultivo sucessivo de soja e milho safrinha. Esse sistema de produção é considerado por ele como uma “ótima casadinha”, pois existe no mercado soja com um ciclo bem precoce, o que proporciona uma época adequada de plantio do milho após a colheita da leguminosa. Além disso, diz ele, é preciso lembrar do benefício do nitrogênio biológico que a soja deixa para o milho.
As culturas de soja e milho são de grande importância econômica. Isso faz com que o produtor deseje cultivá-las. Os benefícios trazidos pelo sistema soja-milho-soja são muitos. O engenheiro explica que um milho recém colhido deixa em torno de sete a nove toneladas de massa seca em sua superfície, o que ajuda no plantio da soja no ano seguinte, pois auxilia na manutenção da temperatura e da umidade desse solo. A umidade no solo, consequentemente, faz com que o produtor tenha uma melhora em seu plantio, principalmente em épocas de chuvas irregulares. Além disso, essa palhada ajuda o desenvolvimento da cultura seguinte, pois contém grande quantidade de nutrientes, principalmente o potássio.
Para o palestrante, de um modo geral, muito se evoluiu na questão do manejo do solo em nosso país, principalmente na questão de fertilidade e adubação. Até algumas décadas atrás, o Brasil estava no sistema de preparo intensivo do solo, fazendo revolvimento todo ano, realizando monocultivo e isso acarretava na sua degradação. O produtor adotou o sistema de semeadura direta, o que foi significativo, pois o não revolvimento do solo contribui para o aumento da matéria orgânica e armazenamento de água no solo, além da redução de custos. Afinal, ao queimar menos óleo diesel ao longo do ano favorece seu bolso e o meio ambiente.
Outra observação feita por Kappes é a de que o milho safrinha começou a ser cultivado nas regiões de centro oeste com investimentos muito baixos, a adubação também era realizada de forma muito escassa e quase sempre com nitrogênio apenas. Mas, segundo ele, isso está mudando ano a ano e, atualmente, há maiores investimentos em fertilizantes com alta tecnologia, com adubação de potássio, fósforo, nitrogênio e micronutrientes.
Sobre o cultivo alternativo do Consórcio do Milho com braquiária, ele explica que a pesquisa já acontece há muitos anos, mas que, infelizmente, algumas regiões, inclusive o Mato Grosso, ainda não o adotaram de maneira ampla. Essas pesquisas revelam resultados muito positivos no sistema de produção, requerendo apenas uma boa implantação e um manejo do sistema consorciado.
Considerando que a água é o principal insumo para a produção de milho, quanto maior a cobertura do solo, maior a retenção de umidade. “O plantio da braquiária, por exemplo, permite cobertura e proteção do solo, além de controlar plantas invasoras e proporcionar maior rendimento das atividades de plantio da próxima safra de soja”.
VISÃO SISTEMICA - Segundo Kappes, o produtor ainda tem um pouco de paradigma a ser quebrado em relação ao consórcio milho safrinha com braquiária porque, no passado, sempre trabalhou-se para eliminar a braquiária no meio do milho, que era vista como uma planta daninha. Hoje ao falar em consorciar com a braquiária é comum o receio de perder um pouco da produtividade da cultura principal. “Infelizmente, este pensamento fica na cabeça de muitos produtores e técnicos que cultivam o milho, mas isso é uma visão muito pontual”, observa.
Ainda segundo Kappes, pode acontecer de a braquiária reduzir produtividade. Isso vai depender do manejo que é feito com relação a esse sistema consorciado, se a chuva corta mais cedo, entre outros fatores influenciadores. Contudo, o produtor precisa ter uma visão sistêmica da tecnologia. “As vezes ele pode perder no milho duas, três ou cinco sacas por hectare, mas o que vem logo após, que normalmente será a soja, terá um benefício muito grande”.
E porque a soja produz mais após o consórcio milho safrinha com braquiária? Kappes explica que o milho e a braquiária são duas gramíneas com sistema radicular muito agressivo, o que traz melhorias na fertilidade física, química e biológica, sem contar o efeito da palhada que fica. O milho por si já deixa de 7 a 9 toneladas de massa seca na superfície do solo, o que pode subir para 15 toneladas com a braquiária consorciada.
O agricultor tem ainda a opção de, após a colheita do milho, deixar a gramínea formar novamente visando a cobertura do solo ou possível pastejo, sendo este um sistema muito eficiente em termos de uso racional da terra e de todos recursos nela disponíveis. “Como podemos observar, é notório o progresso do produtor em nosso país, que nos deixa otimistas”, finaliza Kappes.
RB COMUNICAÇÃO
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