Os órfãos do Covid-19
Escrito pelo jornalista Sérgio Vieira.
O luto de milhares de famílias é a substância de um país que está próximo de chegar aos 600 mil pela Covid-19. A vulnerabilidade social e econômica que afeta milhares de famílias que perderam seus entes queridos é o símbolo de uma pandemia que vem marcando drástica e irreversivelmente uma geração de brasileiros.
Mas não há estatísticas oficiais capazes de identificá-los. E a maioria das crianças e adolescentes que ficaram órfãos em meio ao caos permanece na invisibilidade. Entretanto, dados preliminares dão conta que a pandemia deixou aproximadamente 113 mil crianças e jovens órfãos.
Um ano após o primeiro caso de covid-19 confirmado no Brasil, a Agência Pública registra as histórias dessas famílias que se veem entre a dor de perder um ente e a urgência de garantir condições de vida aos mais novos que ficaram. Até agora, a pandemia já ceifou milhares de vidas no Brasil, atingindo todas as 5.570 cidades do país.
Não há ainda um levantamento disponível que contabilize a quantidade de crianças que perderam seus responsáveis para a covid-19 no país. Mas, mesmo sem números registrados, a realidade existe e hoje forma-se no Brasil uma geração de crianças que crescerão sem os familiares diretos. Um impacto que perpassa o momento da morte e se estenderá para os próximos anos, mesmo depois de passada a pandemia. Não é só a dor da perda, mas tudo que se perde daqui para o futuro.
Particularmente, perdi minha esposa Carla Regina vítima de Covid-19 em 10 de fevereiro deste ano. Considero meus dois filhos (Victor e Renan) como jovens órfãos da mãe e acompanho diariamente o sofrimento deles em função da perda dela. Tenho que me desdobrar em enfrentar a dor de um luto que não é linear com a força de oferecer ombro aos meus filhos que passam por momentos difíceis, principalmente quando verificam que sua mãe foi arrancada do convívio deles (e de nós) de forma violenta e sem despedida. É muito triste.
Imagino essa realidade com crianças pequenas que não podem mais ver suas mães ou seus pais, o sofrimento que eles enfrentam no dia a dia. A dor de nã poder mais ver seus pais e a luta dos familiares em dizerem que um ou outro estão viajando. Essa é a sensação. Em Assis, uma cidade que já contabiliza mais de 400 mortos por Covid-19, infelizmente temos a ausência do poder público que em nenhum momento estendeu as mãos para essas famílias. Ao contrário, está mais preocupado em recuperar a economia do que dar as mãos para famílias em luto oferecendo um amparo para elas.
É triste e inominável verificar que grande parte das pessoas vítimas do Covid-19 poderiam estar salvas se não fosse a canalhice de membros de um governo despreocupado com a vida que se preocuparam em se locupletarem com corrupção. Entretanto, estas pessoas vão ter que fazer um acerto com a história e com a justiça divina. Vão ter que pagar um preço muito alto pelo que fizeram.
Sérgio Vieira é jornalista
Foto - UOL
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