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LOCAL • 25/03/2021

Assis chega ao Colapso e pacientes Covid-19 morrem na UPA enquanto aguardam transferência

Famílias se desesperam com a falta de UTI em hospitais em Assis e todo o Estado.

Assis chega ao Colapso e pacientes Covid-19 morrem na UPA enquanto aguardam transferência

A Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Assis-SP, voltada agora para casos de Covid-19 - por conta da necessidade emergencial, enfrenta alta procura de pacientes com os sintomas mais graves da doença e está prestes a entrar em colapso, assim como os demais hospitais do município. É cruel saber que para um paciente ir a um hospital dotado de toda infraestrutura, alguém precisa morrer. Isso porque as altas hospitalares estão sendo poucas em Assis, principalmente se comparadas ao número de óbitos. Só na quarta-feira, 24, 10 pessoas com resultados positivos para covid foram sepultadas no cemitério municipal.

Atualmente, os leitos da UPA concentram pacientes em estado de grave a gravíssimo que aguardam transferências para UTIs. Não há nenhuma em Assis e região e famílias se desesperam e contam com “um milagre”. Ontem, duas pessoas morreram enquanto aguardavam vaga.

Simplesmente não há o que fazer, senão esperar uma UTI disponibilizada pela CROSS (Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde), que tem como objetivo a distribuição adequada dos pacientes para as vagas de atendimento nas áreas hospitalar e ambulatorial.

A UPA é uma unidade de média complexidade e está se adaptando para dar conta dos casos tão graves do novo coronavírus. O corpo clínico se desdobra entre os tantos casos que ali chegam, como por exemplo, os diversos tipos de acidentes, infartos, entre outras doenças, e agora tem de lidar com a problemática Covid-19.

Há vários pacientes intubados e a promessa da ativação de um novo hospital de campanha em Assis, no Centro de Especialidade. Enquanto isso não acontece, as pessoas morrem, no auge da pandemia.

Espera e morte

Anteontem uma leitora entrou em contato com a redação Abordagem Notícias, pedindo ajuda para transferir a tia dela, Jacira da Costa Diniz, de 65 anos, para uma UTI. Pouco depois, mais precisamente às 20h48, informou “A minha tia acabou de partir”.

Hoje o pastor Paulo Costa, neto da mulher desabafou à reportagem: “A saúde dessa cidade está um descaso. Procurei, de todas as formas, transferir a minha avó para uma UTI. Fui atrás dos vários representantes púbicos de Assis, que nada fizeram. Entrei com uma ação judicial para transferi-la, mas infelizmente não saiu a tempo de evitar que morresse. Se não tem vaga no SUS, o município, por lei, é obrigado a pagar atendimento em hospital particular. Isso é um descaso absurdo do Poder Público”, relata.

O pastor conta que dona Jacira aguardou a remoção pelo período de uma semana. O exame positivo para a Covid-19 chegou à família poucos minutos após a morte dela.

No dia em que deu entrada na UPA, em 08 de março, a mulher apresentava fortes sintomas gripais e foi feito exame de sangue. Depois de oito horas, veio o resultado negativo para o novo coronavírus e ela foi mandada de volta para casa.

Conta o neto, que em uma radiografia apareceu uma mancha no pulmão, que foi ignorada.

No dia 19 de março a mulher piorou consideravelmente e novamente voltou à UPA, com apenas 3% de saturação.

“Então, a minha avó estava quase em óbito e foi intubada. Foi uma batalha perdida nossas tentativas de conseguir uma transferência. Na internação, ela estava com 85% dos pulmões comprometidos, depois melhorou e chegou a 50%. Do nada, foi para 100%. Não conseguimos uma ajuda sequer e a perdemos na noite de terça-feira, 23, um dia após ação protocolada no Ministério Público.

Radialista na fila

Se existe em Assis uma pessoa que é a voz de tantas pessoas em situações de injustiças, é o radialista Marcos Castro, que faz parte de um grupo de oposição à atual gestão municipal, denominado Gatos Pingados.

Desde sexta-feira, 19, o professor de música e radialista está intubado num dos leitos/covid improvisados da UPA, com Covid-19 e pulmões expressivamente comprometidos. No sábado, teve de ser entubado com grande comprometimento pulmonar.

A filha, Jakeline Bernardes, e também amigos, já tentaram de todas as formas que ele fosse transferido para um hospital, mesmo que particular, mas não há vagas e o risco de morte aumenta a cada momento, tendo em vista a idade acima de 60 e alguns problemas de saúde.

O advogado da família Caisê Pinheiro, conversou com o promotor de justiça, Sérgio Campanharo, que lhe informou o que vem sendo dito: Não há como passar ninguém na frente e as vagas dependem de disponibilização pela Cross.

Secretária de Saúde

 

Em contato com a secretária Municipal de Saúde de Assis, Cristiane Silvério, Abordagem Notícias teve a informação de que desde a semana passada o município tem buscado a transferência desses pacientes que estão na UPA, que, conforme cita, é um equipamento de saúde pré-hospitalar, que nesse momento está tendo que dar a assistência hospitalar.

“Temos pessoas entubadas lá (UPA) há um tempo, porque a gente não conseguiu leitos de UTI. Temos buscado resolver isso em conversas com a Secretaria de Estado, por meio da DRS (Divisão Regional de Saúde), que é responsável, inclusive, de fazer um repasse de recursos emergenciais para hospitais, como a Santa Casa, por exemplo, que é um prestador SUS e tem essa possibilidade. Há essa conversa com a Santa Casa no sentido de disponibilizar, só que essa estrutura de UTI é complexa”, relata Cristiane, que enfrentando um grande desafio assumiu a pasta no auge da pandemia.

 A secretaria cita que são necessários respiradores e medicamentos que estão em falta no Brasil inteiro, bem como de equipe de médicos especializados.

“Isso a gente não consegue da noite para o dia. O que eu posso dizer é que os pacientes  na UPA estão nessa central de regulação de ofertas de serviço de saúde, que é a Cross. Nessa central existe os médicos reguladores que vão buscando a disponibilidade de leitos, só que isso é uma situação que está no Estado de São Paulo inteiro, então a gente vai tentando fazer arranjos locais para que possa, junto com as outras esferas que são os maiores responsáveis pela média complexidade e alta complexidade - que é a Secretaria de Estado e o Ministério da Saúde, buscar dentro da nossa estrutura de hospitais, conseguir mudar esse quadro.

A secretária conta que, enquanto gestora municipal, tem buscado, de todas as maneiras, solucionar esse grave problema que assola, não só Assis, mas o Brasil inteiro.

Enquanto isso não acontece, famílias se desesperam a cada momento, a cada chamada por celular, esperando a pior notícia das suas vidas.

 

Redação Abordagem




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