Viviany Beleboni, de 27 anos, cumpriu a promessa e subiu em um dos 17 trios elétricos da Parada do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) em São Paulo com uma fantasia que fazia referência a mais um símbolo religioso, uma representação da Bíblia. A fantasia também trazia as palavras "bancada evangélica" e "retrocesso", na crítica de Viviany aos deputados que no ano passado criticaram a atitude da transexual em desfilar 'crucificada'.
A transexual manteve-se concentrada em sua apresentação sobre o trio. A representação da Bíblia abria e fechava, mostrando notas de dólares na parte de trás. No chão, o público aplaudia e acenava para Viviany. O trio elétrico que ela desfilava trazia uma faixa "Fora Temer bem à frente".
Os organizadores da Parada estimam um público de 2 milhões de pessoas este ano. A Polícia Militar ainda não divulgou estimativa do número de pessoas.
O G1 acompanhou toda a preparação da transexual para o desfile. Logo cedo, no apartamento onde ela mora no Centro de São Paulo, começaram os preparativos: cabelos, maquiagem, botas, roupa. Lágrimas douradas foram pintadas em seu rosto. Uma balança, também dourada, fazia parte do adereço representando a Justiça.
As botas deram trabalhos para a transexual vestir. Com a roupa pronta e toda montada no protesto deste ano, partiu Viviany para a Paulista.
Viviany diz que não tem receio de causar repercussão negativa entre os religiosos com sua nova fantasia. “Não tenho medo, quem tem medo é covarde”, afirma. Em 2015, ela abriu processo contra o Facebook para obrigar a rede social a identificar usuários que, após o desfile, publicaram montagens de fotos dela em meio a imagens de sexo explicíto. Ela também abriu sete processos em que reivindica indenização por danos morais no valor total de R$ 800 mil. Uma delas foi negada.
O objetivo da fantasia foi mostrar como a bancada evangélica no Congresso Nacional impede projetos de lei em prol da comunidade LGBT e da identidade de gênero, tema da Parada Gay 2016. No último dia 18, deputados de dez partidos apresentaram projeto para suspender o direito de transexuais e travestis a usarem seu nome social nos órgãos públicos do governo federal, direito concedido pelo governo Dilma Rousseff, em abril.
“Por que não passam os textos da bancada LGBT? Quem tapa os olhos da Justiça é a bancada evangélica. Eles principalmente estão querendo ser a Justiça. Eles querem se tornar a Justiça. Eles querem fazer a religião deles como Justiça”, disse.
Viviany quer discutir, debater o tema por meio de uma instalação artística. “Não quero ofender ninguém, quero discutir”.
Questionada se ela pode ser acusada de vilipendiar objeto de culto religioso, Viviany afirmou que não usou uma Bíblia de verdade.
“A cruz foi feita em uma marcenaria, eu usei algo para simbolizar a gruz. Eu vou usar uma bíblia que é um fichário, não é abençoado. É tudo material artístico, é representativo. Não tem nada de escárnio”, afirmou.