Cabral admite que comprou, por US$ 2 milhões, votos para levar Olimpíada para o Rio
Segundo Cabral, Lula e Eduardo Paes não participaram do esquema, mas sabiam dos pagamentos.
Cabral está preso desde novembro de 2016 e acumula quase 200 anos de detenção — Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo/Arquivo
O ex-governador Sérgio Cabral admitiu pela primeira vez que comprou, por US$ 2 milhões, votos que garantiram a escolha do Rio como sede da Olimpíada de 2016. Em depoimento nesta quinta-feira (4) ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, responsável pela Lava Jato no Rio de Janeiro, Cabral disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-prefeito Eduardo Paes não participaram do esquema, mas sabiam dos pagamentos de propina.
Em nota, a assessoria de Lula afirmou: "É inverídica e sem provas a referência feita ao ex-presidente Lula pelo ex-governador Sergio Cabral". Paes disse que não teve envolvimento com o caso e não sabia da compra de votos.
O interrogatório desta quinta foi um pedido da defesa de Cabral, que pretende colaborar com as investigações da Operação Unfair Play. Ele afirmou que o ex-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, indicou o presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), Lamine Diack, como intermediário da negociata.
No processo, Cabral é acusado pelo Ministério Público Federal de envolvimento em um suposto esquema de compra de votos no Comitê Olímpico Internacional (COI). Os investigadores querem saber se houve fraude na eleição do Rio para receber os Jogos Olímpicos.
Além de Cabral e de Nuzman, o ex-diretor do COB Leonardo Gryner e o empresário Arthur Soares Filho,
Detalhes do depoimento de Cabral
No depoimento desta quinta, Cabral contou que, em agosto de 2009, durante a campanha trazer os Jogos Olímpicos ao Rio, foi procurado por Nuzman, então presidente do COB, para um "encontro urgente" depois de um evento esportivo em Roma.
"Eu não sabia qual seria a repercussão de um núcleo europeizado muito forte [na votação]. Nessa natureza, o Nuzman vira pra mim e me fala: 'Sérgio, quero te abrir que o presidente da IAAF, Lamine Diack, ele é uma pessoa que se abre pra vantagens indevidas. Ele pode garantir 5 ou 6 votos. Ele quer, em troca, US$ 1,5 milhão'", disse o ex-governador.
No interrogatório, Cabral disse ter perguntado a Nuzman de onde viriam os votos e qual a garantia de que seriam de fato obtidos. O então presidente do COB teria respondido que seriam de membros africanos do comitê e também de representantes do atletismo.
Após o encontro, Cabral disse que iria confiar em Nuzman para tratar dessa negociação. Afirmou, no entanto, que iria conseguir um empresário de confiança para fazer os pagamentos necessários para o acordo.
"Eu chamei o [empresário] Arthur Soares e falei pra ele da necessidade de conseguir o dinheiro para os votos. Isso foi debitado do crédito que eu tinha com ele. Fui eu que paguei. Eu dei o telefone do Léo [Leonardo Gryner, ex-diretor de operações da Rio 2016], e eles acertaram com esse Papa Diack, filho de Lamine Diack", contou o ex-governador.
Cabral disse que, em setembro de 2009, em Paris, dias antes do jantar que ficou conhecido como "Farra dos Guardanapos", Gryner e Nuzman o alertaram sobre a possibilidade de conseguir mais votos para a campanha do Rio.
"Em Paris, no hotel, eu fui chamado no canto pelo Léo e pelo Nuzman, que me falaram de um problema. O Nuzman falou que Papa Diack disse que conseguiria mais votos. Ele disse que poderíamos chegar em 9 votos no total. Mas que precisava de mais US$ 500 mil. Eu disse pra ele que seria feito", contou Cabral.
O evento citado aconteceu em 14 de setembro e o pagamento teria sido feito no dia 29 do mesmo mês.
Diante de Bretas, Cabral afirmou que talvez a compra de votos não fosse necessária para que o Rio fosse escolhido como sede olímpica. Mas o ex-governador questionou: "E se eu não tivesse comprado? Eu não iria ficar nessa dúvida".
Os réus no processo
Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro
Carlos Arthur Nuzman, ex-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB)
Leonardo Gryner, ex-diretor do COB e ex-diretor de operações da Rio 2016
Arthur Soares Filho, empresário conhecido como Rei Arthur que teria participado do esquema de compra de votos
Lamine Diack, ex-presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF)
Papa Massata Diack, filho de Lamine
De acordo com a denúncia do MPF, Cabral, Nuzman e Gryner solicitaram diretamente a Arthur Soares Filho o pagamento de US$ 2 milhões para Papa Diack, para garantir votos para o Rio de Janeiro na eleição da cidade-sede da Olimpíada de 2016, o que configura corrupção passiva. As defesas negam.
Como Lamine Diack e Papa Diack são estrangeiros, o juiz Marcelo Bretas determinou que o processo fosse desmembrado, para que ambos sejam investigados no país em que residem.
Defesas negam participação na compra de votos
Em nota, a defesa de Carlos Arthur Nuzman disse que ele "repele veementemente" a "questão da compra de votos". "Isso não aconteceu. O depoimento do Sr Sérgio Cabral hoje corrobora tudo o que já havia sido dito no decorrer do processo. O Nuzman não recebeu um centavo. Nunca Integrou essa organizado criminosa", diz o comunicado.
"Não teve nenhum benefício com as obras que aconteceram depois da vitória em 2009. O que Cabral falou sobre compra de votos: ele está condenado a 200 anos de prisão e fala qualquer coisa. E mesmo se tivesse acontecido, isso seria uma corrupção privada, que não é crime no Brasil."
Leonardo Gryner afirmou, em nota: "Ficou claro que Sérgio Cabral falta com a verdade e não apresenta qualquer prova de seus relatos, mantendo-se integra a prova produzida na instrução criminal que isenta Leonardo Gryner de qualquer responsabilidade! Se houve compra de votos ele não participou!".
A defesa de Arthur Soares Filho disse que ele "está e sempre esteve à disposição das autoridades para esclarecimentos".
Nova estratégia de Cabral
Em uma nova estratégia da defesa, o ex-governador tem revelado mais detalhes nos casos em que confessou participação. Vários novos depoimentos estão sendo marcados.
Na última segunda-feira (1), Sérgio Cabral disse a Bretas que o empresário Arthur Soares, conhecido como Rei Arthur, atuava junto aos políticos do Estado.
Segundo Cabral, o empresário fraudava licitações, organizava os prestadores de serviços durante seu governo e ainda fazia doações, através de caixa 2, para parceiros políticos do ex-governadoconhecido como Rei Arthur, foram denunciados por corrupção devido à suspeita de compra de votos. As defesas negam. Lamine Diack e o filho dele, Papa, são acusados de intermediar o pagamento de US$ 2 milhões.
Detalhes do depoimento de Cabral
No depoimento desta quinta, Cabral contou que, em agosto de 2009, durante a campanha trazer os Jogos Olímpicos ao Rio, foi procurado por Nuzman, então presidente do COB, para um "encontro urgente" depois de um evento esportivo em Roma.
"Eu não sabia qual seria a repercussão de um núcleo europeizado muito forte [na votação]. Nessa natureza, o Nuzman vira pra mim e me fala: 'Sérgio, quero te abrir que o presidente da IAAF, Lamine Diack, ele é uma pessoa que se abre pra vantagens indevidas. Ele pode garantir 5 ou 6 votos. Ele quer, em troca, US$ 1,5 milhão'", disse o ex-governador.
No interrogatório, Cabral disse ter perguntado a Nuzman de onde viriam os votos e qual a garantia de que seriam de fato obtidos. O então presidente do COB teria respondido que seriam de membros africanos do comitê e também de representantes do atletismo.
Após o encontro, Cabral disse que iria confiar em Nuzman para tratar dessa negociação. Afirmou, no entanto, que iria conseguir um empresário de confiança para fazer os pagamentos necessários para o acordo.
"Eu chamei o [empresário] Arthur Soares e falei pra ele da necessidade de conseguir o dinheiro para os votos. Isso foi debitado do crédito que eu tinha com ele. Fui eu que paguei. Eu dei o telefone do Léo [Leonardo Gryner, ex-diretor de operações da Rio 2016], e eles acertaram com esse Papa Diack, filho de Lamine Diack", contou o ex-governador.
Cabral disse que, em setembro de 2009, em Paris, dias antes do jantar que ficou conhecido como "Farra dos Guardanapos", Gryner e Nuzman o alertaram sobre a possibilidade de conseguir mais votos para a campanha do Rio.
"Em Paris, no hotel, eu fui chamado no canto pelo Léo e pelo Nuzman, que me falaram de um problema. O Nuzman falou que Papa Diack disse que conseguiria mais votos. Ele disse que poderíamos chegar em 9 votos no total. Mas que precisava de mais US$ 500 mil. Eu disse pra ele que seria feito", contou Cabral.
O evento citado aconteceu em 14 de setembro e o pagamento teria sido feito no dia 29 do mesmo mês.
Diante de Bretas, Cabral afirmou que talvez a compra de votos não fosse necessária para que o Rio fosse escolhido como sede olímpica. Mas o ex-governador questionou: "E se eu não tivesse comprado? Eu não iria ficar nessa dúvida".
Os réus no processo
Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro
Carlos Arthur Nuzman, ex-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB)
Leonardo Gryner, ex-diretor do COB e ex-diretor de operações da Rio 2016
Arthur Soares Filho, empresário conhecido como Rei Arthur que teria participado do esquema de compra de votos
Lamine Diack, ex-presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF)
Papa Massata Diack, filho de Lamine
De acordo com a denúncia do MPF, Cabral, Nuzman e Gryner solicitaram diretamente a Arthur Soares Filho o pagamento de US$ 2 milhões para Papa Diack, para garantir votos para o Rio de Janeiro na eleição da cidade-sede da Olimpíada de 2016, o que configura corrupção passiva. As defesas negam.
Como Lamine Diack e Papa Diack são estrangeiros, o juiz Marcelo Bretas determinou que o processo fosse desmembrado, para que ambos sejam investigados no país em que residem.
Defesas negam participação na compra de votos
Em nota, a defesa de Carlos Arthur Nuzman disse que ele "repele veementemente" a "questão da compra de votos". "Isso não aconteceu. O depoimento do Sr Sérgio Cabral hoje corrobora tudo o que já havia sido dito no decorrer do processo. O Nuzman não recebeu um centavo. Nunca Integrou essa organizado criminosa", diz o comunicado.
"Não teve nenhum benefício com as obras que aconteceram depois da vitória em 2009. O que Cabral falou sobre compra de votos: ele está condenado a 200 anos de prisão e fala qualquer coisa. E mesmo se tivesse acontecido, isso seria uma corrupção privada, que não é crime no Brasil."
Leonardo Gryner afirmou, em nota: "Ficou claro que Sérgio Cabral falta com a verdade e não apresenta qualquer prova de seus relatos, mantendo-se integra a prova produzida na instrução criminal que isenta Leonardo Gryner de qualquer responsabilidade! Se houve compra de votos ele não participou!".
A defesa de Arthur Soares Filho disse que ele "está e sempre esteve à disposição das autoridades para esclarecimentos".
Nova estratégia de Cabral
Em uma nova estratégia da defesa, o ex-governador tem revelado mais detalhes nos casos em que confessou participação. Vários novos depoimentos estão sendo marcados.
Na última segunda-feira (1), Sérgio Cabral disse a Bretas que o empresário Arthur Soares, conhecido como Rei Arthur, atuava junto aos políticos do Estado.
Segundo Cabral, o empresário fraudava licitações, organizava os prestadores de serviços durante seu governo e ainda fazia doações, através de caixa 2, para parceiros políticos do ex-governador.
De acordo com o depoimento, Rei Arthur pagou R$ 6 milhões para a campanha de Eduardo Paes (DEM), em 2008, e mais R$ 5 milhões para ajudar a eleger Lindbergh Farias (PT) como senador, em 2010. Paes diz que doações foram declaradas e devidamente aprovadas pela Justiça Eleitoral e a assessoria de Lindbergh ainda não respondeu aos contatos da reportagem do G1.
Cabral responde a 29 processos e já foi condenado em 9 deles, somando 198 anos de prisão na Justiça Federal do Paraná e do Rio de Janeiro.
Fonte G1
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