Na coluna de hoje compartilho com vocês um texto leve e reflexivo sobre o cotidiano, cheio de clichês.
Tem horas que a permanência nas consequências é a criatividade de se criar o inferno, o tempo é a distância entre o certo e o possivelmente errado, abraçar é o refúgio das desesperanças. Palavras clichês e repetidas. Se eu disser que seus olhos me fazem querer que as estrelas sorriem, vai dizer que é clichê. Se eu disser que quero você do meu lado, peço carinho. Apenas vontade de me amar eu imploro, porque se eu te amo assim, tanto e amiúde, por que tamanho amor não pode ser eternizado em algumas linhas de eu te amo?
O tempo é a consequência e o inferno as horas que se passam no relógio, ando em uma plataforma de uma estação de trem qualquer, um pequeno letreiro digital segue escrevendo num pisca-pisca: NÃO CORRA, NÃO FUME, NÃO PERMANEÇA NA REGIÃO DAS PORTAS, NÃO SORRIA, NÃO DESÇA A VIA, NÃO VIVA.
Esse é o inferno que criamos, o da negação de se viver. Paro atrás da linha amarela, onde também está escrito: Permaneça atrás da linha amarela. E espero o trem.
Era escuro o túnel. Sem sinal. Sem vida. Pessoas a volta de diferentes manias, fones de ouvidos quase sempre ligados a uma balada agitada para não dormirem no embalo do trem. De repente, urge no meio da multidão toda sentada e em pé um homem gritando:
- Senhoras e senhores, bom dia, desculpe atrapalhar a viagem de vocês, chega aqui mais uma novidade do Shopping Trem, é o croc-choc, aqui chamou com um real leva um, chamou com cinco leva três, nova promoção aqui do shopping trem...
Um pouco de susto e um pouco de admiração, era um homem até que bem vestido, da periferia talvez, vendendo aquilo para alimentar sua família carente ou mesmo para ganhar um dinheiro a mais, já que seu salário é péssimo.
O inferno se traduz em poucas palavras, cidade, miséria, pessoas. Todos somos mendigos na nossa própria ignorância e um pouco egoístas a nossa maneira. Parece clichê. Tudo o que se disser a partir de agora se cai num frenesi de clichês. Pensamentos conservadores: clichês. Pensamentosr extremistas: clichês. Um homem da periferia vendendo produtos a margem da lei: clichê. Ensino médio: clichê. Faculdade: clichê. Não fume, não beba, não permaneça na região das portas: clichê.
Eis a questão da nossa permanência criar em nós o próprio inferno. O inferno dos clichês, dos agoras, dos desnecessários.
Penamos por estar presos as placas da negação, da incoerência, da falseabilidade social, da invisibilidade mundana, do enfim.
"Próxima estação" anuncia a voz metálica. Espero encontrar do outro lado uma nova estação, a que todos são iguais perante ao amor.
Eduardo Pereira
Participe do nosso grupo do WhatsApp!
Fique informado em tempo real sobre as principais notícias de Assis e região
Clique aqui para entrar no grupo