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OSSIRES MAIA
ARTIGO • 18/10/2024 às 01:27

História Pessoal

Alcindo Garcia é jornalista renomado em São Paulo.

História Pessoal

Este escriba começou do nada, mas desenvolveu-se rapidamente e em nove meses estava pronto para nascer. Isso aconteceu pouco tempo depois de estourar a guerra na Europa, mas os parentes garantem que não há nenhuma ligação conhecida entre os dois fatos. Nada na sua infância deixava antever que o autor que pisava as ruas barrentas de sua cidade viria a ser um contestador. O pai fazia gosto que fosse são-paulino, mas desde a infância já defendia as cores do “verdão”.

O único registro do nome que possui vem do século passado, quando um abolicionista chamado Alcindo Guanabara, vivia fustigando a princesa Isabel nos artigos que escrevia para os jornais para que ela libertasse os escravos. Detestou matemática desde a primeira aula. Exorcizava teoremas, regra de três, frações decimais, raiz quadrada e só sabia a tabuada do dois. Como vingança, jurou que daria o nome de Matemática à primeira cadela que possuísse. O voto jamais foi cumprido, porque o biografado nunca teve uma cachorra. Transferiu seu voto para um cão vira-lata, em quem pôs o nome de Gerúndio, porque também tinha ojeriza a verbos. O Gerúndio morreu atropelado.

Gostava de desenho, mas foi sempre incompreendido pelos mestres que não aceitavam que ele desenhasse nas aulas de História do Brasil. Contestou o professor de História rebatendo a versão oficial, ao considerar a desigualdade de forças entre Brasil, Argentina e Uruguai que se uniram contra o Paraguai, um país tão pequeno como aquele. Por defender as minorias, foi injustamente convidado a se retirar da classe, com anotação registrada no boletim.

Tentou ser poeta, riscando na parede com carvão o seu primeiro poema, que dedicou a empregada da casa, que o trancara no quarto, porque fugira da escola.

Foram versos de protesto contra o cárcere privado, poema que lhe rendeu nota zero dada pelos pais, em defesa da serviçal. Os avós concordaram que exagerara na tinta. Ou no carvão. Cursou o ginásio em sua cidade natal, onde o professor de Educação Física escalou-o como goleiro do time. Motivos de glória? Só uma vez, quando saiu entusiasticamente carregado do campo. Mas percebeu logo que quem o conduzia eram os jogadores do time adversário. 

(Alcindo Garcia é Jornalista) e-mail: alcindogarcia@uol.com.br




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