Brasil tem índice de país que permite casamento infantil
A gravidez precoce é alarmante no Brasil
O índice de gravidez na adolescência diminuiu ao longo dos anos no Brasil e, em contradição, subiu 14 posições, em 20 anos, na lista de 213 países com fecundidade precoce. Hoje, o país está na 49º colocação: são 70 a cada mil meninas entre 15 e 19 anos que deram à luz em 2013, de acordo com a última pesquisa do Banco Mundial.
Acima do Brasil, encontram-se, principalmente, países africanos que têm uma cultura permissível ao casamento infantil. O Níger, por exemplo, adota essa tradição e 71% das mulheres se casaram antes dos 18 anos. Ele se encontra no topo da lista, com 205 meninas a cada mil de 15 a 19 anos que são mães.
Mas o casamento precoce não é fator determinante para o índice de gravidez na adolescência. O Brasil está 56 colocações acima da Índia e 73, do Paquistão, países que permitem, em algumas regiões, o casamento infantil. No Sudão do Sul, por exemplo, 52% das mulheres se casam antes dos 18 anos, mas são 72 mães em um grupo de cada mil adolescentes, o que coloca o país apenas cinco posições acima do Brasil.
De acordo com o Ministério da Saúde, a gravidez precoce caiu 26% nos últimos 13 anos. Em 2000, foram 750.537 bebês nascidos vivos por partos de adolescentes de 10 a 19 anos. Nesse mesmo ano, o Brasil estava em 54º lugar no ranking mundial com índice de fecundidade em meninas entre 15 e 19. Com a ajuda de políticas de prevenção, em 2013, foram 555.159 bebês. Mesmo com uma diminuição significativa no número dos nascidos, proporcionalmente, o país piorou em relação a outras nações.
De acordo com o relatório do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), divulgado em 2013, foi constatado que, no Brasil, 12% das adolescentes de 15 a 19 anos têm pelo menos um filho. Na mesma pesquisa, 19,3% das crianças nascidas em 2010 são filhos e filhas de mães menores de 19 anos.
A manicure Nicelly Nascimento foi mãe aos 13 anos, e hoje, com 26 anos, conta as dificuldades que passou na época. “Ter que me posicionar perante aos outros foi bem difícil. Mudou bastante os rumos da minha vida. Tive que parar os estudos e, quando meu filho tinha dois anos, tive que começar a trabalhar, o pai não ajudou com nada. Foi bem complicado”, lamenta.
Diferentemente da cultura dos países da África, os fatores associados à maternidade precoce no Brasil são encontrados, principalmente, no lar da jovem. A condição de pobreza da família e a falta de diálogo entre os pais e as jovens são apontados como antecessores. Mas também a falta de acesso à educação sexual nas escolas e o auxílio no planejamento familiar prejudica a prevenção da gravidez.
Além de mudar totalmente a trajetória de vida dessas jovens mães, a gravidez na adolescência traz outros problemas. As meninas que engravidam antes dos 15 anos aumentam em cinco vezes o risco de morrer por causas relacionadas a própria gravidez, ao parto e ao pós-parto do que mulheres na faixa dos 20 anos.
Segundo a obstetra de alto riso do Hospital Universitário de Brasília (HUB), Silândia Freitas, os riscos começam em decorrência de negligência da própria adolescente. Normalmente, elas escondem a gravidez por um tempo e atrasam o acompanhamento da gestação por um profissional. Além disso, pela pouca idade, a chance de desenvolverem doenças relacionadas a gravidez aumenta significativamente. “O risco de doenças hipertensivas, doenças metabólicas e diabetes gestacional cresce em adolescentes. A vida reprodutiva da jovem também é limitada, consequência da cesariana”, explica a obstetra.
Fonte: Correio Braziliense
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